OLIVIA MERQUIOR, CRIADORA DA BRIFW, IMPULSIONA DISCUSSÕES SOBRE TECNOLOGIA E MODA
Mentora dos cursos GMT foi pioneira nas discussões sobre Moda e Tecnologia no Brasil, destaca matéria da Harpers Bazzar.
Nesta quarta-feira (16.11), começa a terceira edição da Brazil Immersive Fashion Week (BRIFW), a primeira semana de moda imersiva da América Latina. Unindo arte, cultura, educação, tecnologia e, claro, moda, o evento propõe um novo olhar sobre um dos principais mercados da atualidade e seus desdobramentos no cenário tecnológico, desmistificando temas como metaverso e Web3.
Por trás da criação do evento, que oferece experiências imersivas em um formato phygital, está Olivia Merquior. Com o desejo de explorar o mundo da moda, Olivia estudou engenharia têxtil e, anos mais tarde, se dedicou à comunicação. “Estava sempre tentando encontrar caminhos de chegar na moda de uma maneira que entendo, como uma expressão sensível das mudanças que acontecem na sociedade, na construção de uma imagem social de quem queremos ser no mundo”, conta, em entrevista à Bazaar, sobre o que a incentivou a entrar neste universo.
Olivia já transitou por diversas áreas dentro do universo da moda. Depois de fazer Design na Central Saint Martins, em Londres, trabalhou em desfiles da Animale e passou a perceber o quão pouco se falava sobre tecnologias relacionadas a matéria-prima nos backstages. Foi então que encontrou o seu ponto de destaque: a criação de tecidos termo chroma, de materiais que se expandem conforme a temperatura e deu continuidade ao seu TCC, que já questionava como as tecnologias criam uma forma integrada de personalidade.
A comunicadora se destacou na área e recebeu convites que uniam os dois universos nos quais se especializou. Olivia Merquior foi convidada pelo Grupo Soma para fazer pesquisas internacionais sobre tecidos e entrou para o Première Vision Paris na área de Smart Fabric. Em 2017, Olivia participou do SXSW, em uma edição em que diversos players do universo da moda, incluindo Marc Jacobs e Levi’s, apresentaram os desdobramentos da tecnologia no mercado fashion, incluindo Olivia, que palestrou sobre tecidos conectados.
“Quando voltei, senti que precisávamos falar sobre isso melhor, porque ficou muito claro para mim que a tecnologia estava se tornando cada vez menos invisível e começando a entrar no monitoramento biométrico. Comecei a ver que existia um fluxo da tecnologia adentrando o vestuário por razões óbvias: eles entenderam o que fazemos na moda, de criar sentido e storytelling, fazer com que o público se afeiçoe aos objetos; e porque nossa biometria comunica muito mais um ambiente conectado do que apenas um like, o batimento cardíaco na hora que você se depara com algum acontecimento tem várias informações que eles estão ávidos para ter e não precisar te induzir a fazer uma ação no celular”, afirma.
Foi movida pela curiosidade de saber onde tudo isso chegaria e como poderíamos expandir nossa imaginação de uma maneira totalmente diferente que Olivia se aprofundou em fazer com que este conhecimento chegasse à grande massa. “Fazer as pessoas se aproximarem de termos como protocolo, algoritmo, blockchains para elas tomarem a decisão se elas querem pertencer ou não. Porque até hoje, na Web2, há falta de conhecimento sobre como isso funciona. Então a BRIFW surge de uma vontade de desmistificar esses termos usando a moda, entendendo que a moda tem muito valor em construir essa imagem social que desejamos ter e abrir caminhos para pensarmos em novas formas de contar histórias potentes”, explica Olivia.
A expansão e importância do conhecimento de assuntos como o metaverso pode ser observado a partir do crescimento da BRIFW. Em 2020, durante a pandemia, o evento contou com dez marcas de diferentes países e diversos artistas digitais, que já se dedicavam para plataformas que, na época, começavam a ganhar força, como o Discord.
Já a segunda edição reuniu 16 marcas, entre elas, três existiam apenas no digital. “Há também uma mudança econômica, de mercado, de negócio. Porque já existem marcas que usam uma economia direta da rede de avatar, economia que só acontece no mundo virtual”, analisa Olivia sobre o cenário no ano passado.
“Quando falamos de metaverso, ele não necessariamente é um game ou é ativado por alguma tela bidimensional, mas é uma experiência digital que amplifica a realidade e que faz com que você se questione o que é aquilo. Então, este ano, temos 12 desfiles físicos em duas salas”, conta sobre a terceira edição do evento.
O line up reúne 30 marcas digitais, exposições, shows e experiências imersivas, além de uma parceria com a agência de influenciadoras virtuais Biobots, que traz alguns de seus principais nomes para a BRIFW, como Satiko e Pink, avatares de Sabrina Sato e Boca Rosa, respectivamente, para ações híbridas. Em parceria com o STATE – centro independente de inovação científica, criativa e de cidades inteligentes, esta edição da BRIFW também apresenta o NR_Lab, projeto que fomenta a pesquisa e desenvolvimento de talentos e projetos digitais focados em soluções para a indústria criativa.
O cenário brasileiro
Quando falamos sobre experiências de moda no metaverso, é fácil lembrar de alguma grande grife internacional anunciando uma ação exclusiva ou a discussão de quem é o verdadeiro público-alvo dessas iniciativas. Mas e o mercado brasileiro? Olivia amplia o questionamento ao analisar que por trás de diversas ações internacionais, há profissionais brasileiras.
“Isso demonstra a dificuldade que temos em desenvolver ideias inovadoras antes de elas serem validadas fora. Então, diversos artistas digitais, por exemplo, tiveram que sair do Brasil senão iriam trabalhar apenas com publicidade e não teria espaço para desenvolver sua arte digital apenas como arte. Por exemplo, Adriana Hoppenbrouwer, que é uma das fundadoras do The Fabricant, é uma brasileira. Giovanna Graziosi Casimiro, head do Metaverse Fashion Week, na Decentraland, é uma mulher brasileira que teve que ir para fora também”, lembra.
Quando questionada sobre a principal mensagem que deseja passar para quem foge das novas tecnologias, Olivia Merquior analisa o poder que o conhecimento pode trazer para os usuários de toda e qualquer tecnologia.
“Comece a se questionar quando alguém fala pra você que quer entrar no metaverso. Hoje em dia, estamos muito mais preocupados em saber se temos possibilidade de sair dele, porque nele já estamos. O que temos que nos preocupar é você, como profissional, consegue não estar nas redes sociais? Conhecer como esse universo funciona, para a gente também saber criar caminhos para sair ou desligar quando a gente quiser”, finaliza Olivia Merquior.